A proposito de la 31ra Conferencia Annual de FAUBAI en Belém, nuestra socia RIESAL Renée Zicman fue entrevistada por Almerinda Romeira para la revista “Journal Economico” donde nos platica sobre el estado de la educación superior en Brasil, la diversidad y naturaleza de sus instituciones, los retos de la internacionalización y su labor como directora ejecutiva de FAUBAI.
Aquí una transcripción del texto original en portugués e inglés.
É, nas suas próprias palavras, “filhada cooperação internacional”. Os pais, jovens engenheiros, ele, argentino, de ascendência ucraniana, e ela brasileira, faziam a especialização em França quando se conheceram. A mãe terá sido a primeira bolseira da CAPES, organismo que financia a cooperação do Brasilino exterior, criado em1951. Renée Zicman nasceu no Rio de Janeiro, mas fez a sua vida em São Paulo. Professora durante quatro décadas na Faculdade de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, onde durante muitos anos foi responsável pela área internacional, é Diretora Executiva da Associação Brasileira de Educação Internacional, desde 2013. Em Belém, no estado do Pará, palco da 31.ª conferência anual da FAUBAI, que decorreu entre 13 e 17 de abril, conversou com o Educação Internacional e fez-nos uma radiografia do ensino superior brasileiro.
Como se organiza a educação superior no Brasil? Que instituições há?
O sistema de educação superior brasileiro é bastante complexo e diversificado. Mesmo no país, não sei se todos temas percepção de como o sistema é diverso. No Brasil, há atualmente pouco mais de 2.400 instituições de educação superior (IES), das quais cerca de 200 são universidades, o que significa que há um número imenso de instituições de ensino superior não universitárias.
Comecemos pelas universidades.
O sistema divide-se em dois grandes grupos: as instituições públicas, que podem ser federais, ligadas ao Ministério da Educação ou ao governo central, e estaduais ou municipais, ligadas aos estados e municípios brasileiros, portanto com financiamento ou financiamento central do próprio ministério para as federais, e financiamento dos governos dos estados e municípios para as instituições estaduais e municipais. Este é o segmento público, em que estão as mais importantes universidades do país. Do outro lado, há as universidades privadas.
Como se caracterizam as universidades privadas?
Temos duas categorias de instituições. As universidades privadas comunitárias, de direito privado emissão pública, sem fins lucrativos e onde os lucros auferidos são, por lei, obrigatoriamente reinvestidos na instituição. Aí, encontramos o ensino superior religioso, que é muito forte no Brasil e, de um modo geral, na América Latina. Estão neste grupo, por exemplo, as universidades católicas pontifícias, as ‘7 PUCs’ – São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro, Goiás, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul –, que têm uma presença muito forte no país. São universidades com um compromisso muito grande com o desenvolvimento das regiões onde estão inseridas, daí o caráter comunitário, filantrópico.
O outro segmento é o privado particular, com crescimento relativamente recente e composto por instituições privadas stricto sensu, que podem ser lucrativas.
As instituições privadas reúnem 87,9% das instituições de educação superior do país e 75,3% das matrículas em licenciaturas.
E o resto?
Nas quatro categorias–público federal, público estadual e municipal; privado comunitário; e privado particular– há diversas modalidades de instituição: universidades, centros universitários, faculdades e institutos de educação, ciência e tecnologia. Fora as universidades, mais de 2.200 são instituições de educação superior não universitárias. Todas reguladas e reconhecidas pelo Ministério da Educação, ainda que a gestão e o orçamento não saiam do governo federal.
Como se explica a existência de tanta instituição?
A realidade do país ajuda a explicar a diversidade que vamos encontrar dentro do sistema de educação superior. A meta do Plano Nacional de Educação (PNE) é chegar a 33% dos jovens entre os 18 e os 24 anos no ensino superior. O número atual é próximo de 19%.
Falemos da FAUBAI. O que faz? Quem representa?
A FAUBAI, fundada em 1988, procura desenvolver e estimular o processo de internacionalização do ensino superior, promover a qualidade e excelência da educação superior brasileira, apresentar o país como um destino para estudantes. Em suma, contribuir para aumentar a visibilidade do Brasil no exterior. Temos em torno de 250 associados, entre universidades, centros universitários, faculdades e institutos. As universidades constituem mais de 50% dos associados. Para que uma instituição seja associada, é condição estatutária ter, pelo menos, uma pessoa responsável pela área internacional. Como associados efetivos, a FAUBAI reúne gestores das áreas internacionais de instituições de ensino superior brasileiras. Como associados colaboradores, podemos ter instituições estrangeiras.
Como avalia o processo de internacionalização o das vossas associadas? Em que fase está?
Em primeiro lugar, gostaria de enfatizar um aspeto muito importante, que é o elevado grau de profissionalização já atingido pela gestão dos assuntos internacionais das instituições brasileiras. Acreditamos na necessidade de capacitar a gestão profissional como forma de dar continuidade aos projetos, independentemente das mudanças que se possam verificar na direção das instituições. Neste campo, avançámos imenso no Brasil. Pela constituição brasileira, as universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecem ao princípio de in dissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Não acho que a internacionalização seja, como muitos dizem, um quarto pilar...
Então é o quê, na sua opinião?
A internacionalização é uma dimensão transversal porque perpassa o ensino, a pesquisa e a extensão. Transversal também na medida em que faz parte integrante demissão instituição. Não se trata de um apêndice, não é aquele professor que faz aquele programa, tem aquele consórcio, ou aquele outro que recebe estudantes ou vai fazer o pós-doc. Isso, claro, é sempre importante, mas a ideia é que tudo isso faça parte de uma estratégia institucional. Esse entendimento é outra coisa em que avançámos imenso no país. Entre os nossos reitores, pró-reitores e dirigentes, e em alguma medida no governo – embora o momento que agora vivemos no Brasil tenha umas caraterísticas bastante preocupantes– já existe, no geral, a noção da importância da internacionalização.
Qual é? Pode especificar?
A dimensão internacional é fundamental para a investigação de qualidade e o desenvolvimento da própria extensão universitária. A função da universidade é formar profissionais e, antes demais, cidadãos, para atuar neste mundo tão complexo e global. A instituição de ensino superior tem que abraçar essa agenda da internacionalização porque é a melhor maneira de conseguir formar esse cidadão do século XXI. Espera-o um mundo complexo, por isso, tem de saber atuar num mundo desigual, que saiba valorizar a diferença e a interculturalidade, e dominar línguas estrangeiras. O cidadão do séc. XXI tem de saber atuar num mundo que é global, mas simultaneamente local. Nunca pode esquecer que as duas dimensões têm que estar presentes.
Quais são as relações entre as IES portuguesas e brasileiras?
Resumindo, diria o seguinte: há um terreno muito fértil e acho que ambos os países perceberam isso. Temos atuado conjuntamente e avançado. Sou completamente defensora de que temos que saber cada vez mais explorar nossas potencialidades, reforçar-nos mutuamente e reforçar a lusofonia, junto com os outros países lusófonos, através de ações conjuntas entre as nossas instituições de educação superior.
Text in English
She is, in her own words, a “daughter of international cooperation”. The young parents, engineers, Argentine father with Ukrainian descent, and Brazilian mother, did their specialization in France when they met. The mother, it all points out, will have been the first CAPES grantee, a body that funds Brazil’s cooperation abroad, created in 1951. Renée Zicman was born in Rio de Janeiro but lived in São Paulo. Professor for four decades in the Faculty of Social Sciences of the Pontifical Catholic University of São Paulo, where for many years she was responsible for the international area, she heads the Executive Board of the Brazilian Association of International Education FAUBAI since 2013. In Belém, in the state of Pará, stage of the 31st annual conference of FAUBAI, she sketched an X-ray of Brazilian higher education to the International Education.
How is higher education organized in Brazil? What institutions are there?
The Brazilian higher education system is very complex and diversified. Even in the country, I do not know if everyone understands how diverse the system is. In Brazil, there are currently just over 2,400 higher education institutions (HEIs), of which about 200 are universities, which means that there are a huge number of non-university higher education institutions.
Let’s start with the universities.
The system is divided into two major groups: public institutions, which may be federal, linked to the Ministry of Education or to the central government of the country, and state or municipal, linked to the Brazilian states and municipalities, with financing or co-financing from the Ministry to the federal and the financing of state and municipal governments for state and municipal institutions. This is the public segment, where the most important universities of the country are. On the other side, there are private universities.
How are private universities characterized?
We have two categories of institutions. The private community universities, private law and public mission, non-profit and where profits earned are by law obliged to be reinvested in the institution. There we find religious higher education institutions, which are very strong in Brazil and, in general, in Latin America. In this group, for example, the Pontifical Catholic universities – the ‘7 PUCs’ (São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro, Goiás, Minas Gerais, Paraná and Rio Grande do Sul) have a very strong presence in the country. They are universities with a great commitment to the development of the regions where they are inserted, hence the community philanthropic character.
The other segment is private owned, with a relatively recent growth and composed of private institutions ‘stricto sensu’, which can be profitable. Private institutions combine 87.9% of the country’s higher education institutions and 75.3% of undergraduate degrees.
And the rest?
In the four categories - federal public, state and municipal public; private community; and private owned - there are several models of institutions: universities, university centers, colleges and institutes of education, science and technology. Besides universities, more than two thousand and two hundred are non-university higher education institutions. They are all regulated and recognized by the Ministry of Education, although the management and the budget are still with the federal government.
How do you explain so many institutions?
The reality of the country helps to explain the diversity that we will find within the higher education system. The goal of the PNE National Education Plan is to reach 33% of young people aged 18 to 24 in higher education. The current number is close to 19%.
Let’s talk about FAUBAI. What are you doing? Who does it represent?
FAUBAI, founded in 1988, seeks to develop and stimulate the internationalization process of higher education, to promote the quality and excellence of Brazilian higher education, to present the country as a destination for students, in short, to increase the visibility of Brazil abroad. We have around 250 members, including universities, university centers, colleges and institutes. The universities represent more than 50% of the associates. For an institution to be associated, it is a statutory condition to have at least one person who is responsible for the international area. As effective associates, FAUBAI brings together managers from the international areas of Brazilian higher education institutions. As associate collaborators, we may have foreign institutions.
How do you evaluate the internationalization process of your associates? What stage are we in?
Firstly, I would like to emphasize a very important aspect, which is the high degree of professionalism already achieved by the management of international affairs of Brazilian higher education institutions. We believe in the need to train professional management as a way to continue projects, regardless of the changes that may occur in the direction of institutions. In this field, we have made great strides in Brazil. And not only. Through the Brazilian constitution, universities enjoy didactic-scientific, administrative and financial and patrimonial autonomy, and obey the principle of inseparability between teaching, research and extension. I do not think internationalization is, as many people say, a fourth pillar...
What is it, in your perspective?
Internationalization is a cross-cutting dimension because it involves teaching, research and extension. Transversal also as it is an integral part of the institution’s mission. It is not an appendix, it is not that teacher who did that program, has that consortium, or another one that receives students or will do his ‘post-doc’. That of course is always important, but the point is that all this is part of an institutional strategy. This understanding is another thing in which we advance immensely in the country. Among our rectors, pro-rectors and leaders, and to some extent in government, although the moment we are now in Brazil has some very disturbing characteristics, there is already, in general, an understanding of the importance of internationalization.
Which is? Can you specify?
The international dimension is fundamental for quality research, for the development of the university extension itself.
The function of the university is to train professionals, first and foremost citizens, to act in this world so complex and global. The higher education institution has to embrace this agenda of internationalization because it is the best way to be able to educate citizen of the 21st century, who needs to work in a complex world, in an unequal world, who knows how to value difference and interculturality, to master foreign languages. The citizen of the 21st century must know how to act in a world that is global, but simultaneously local. You can never forget that the two dimensions have to be present.
How do you evaluate the current state of relations between higher education institutions in Portugal and Brazil?
I would summarize by saying this: There is a very fertile ground and I think we have already seen this mutually. We have acted jointly and advanced. I am a strong advocate that we must increasingly know how to exploit our potential, strengthen each other and strengthen Lusophone, along with other Portuguese-speaking countries, through joint actions that we may have among our higher education institutions.